Preconceito

4 de outubro de 2010 - 14:03

 

Laboratório de Inclusão

 

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Preconceito

    Márcia Jeane Pontes de Oliveira é aluna do curso de Letras da UFC, ex- estagiária da Unidade de Aplicação de Estágio Universitário e colaboradora de Informação e Consciência Humana da STDS.

    Outro dia me peguei refletindo sobre o significado da palavra “preconceito”. Como o próprio vocábulo diz: “pré-conceito” designa um conceito “pré-concebido”; uma idéia formulada precipitadamente sobre uma realidade muitas vezes (aliás, na maioria delas), ainda desconhecida. Quando era criança, lembro-me que meu avô (uma pessoa que amo muito e que tenho bastante respeito e admiração), oriundo de uma família humilde, provinciana e preconceituosa repetia muitas vezes em alto e bom som, para quem quisesse escutar, frases do tipo: “negro não presta”, “todo negro é boçal”, “não gosto de fazer negócio com negros”… etc. Na época, não sabia exatamente o que aquelas “constatações” pessoais de meu avô queriam me dizer, e acho até que acreditava nelas, pois não tinha ainda uma opinião formada sobre a realidade das coisas e do mundo. Porém, hoje em dia tais afirmações não fazem mais o menor sentido para mim. Nunca li em nenhum livro, fosse de Biologia, de Psicologia ou de Literatura que a cor da pele de um ser humano implicasse seu caráter. Não há como avaliar através da coloração da pele de um indivíduo sua personalidade, seu grau de humildade ou de honestidade ou suas oscilações de humor . Nunca existiu até hoje alguém que tenha comprovado que a quantidade de melanina presente em nosso organismo influenciasse tais características. É óbvio que sabemos da existência de uma série de fatores sociais, políticos e, sobretudo, culturais responsáveis pela disseminação da ideologia racista. E este, não é, infelizmente, o único tipo de preconceito existente no mundo. Na verdade, existente em “nós”, porque somos nós, que através da burrice, da desinformação e da alienação o criamos e o alimentamos. Existe, inclusive, uma frase do escritor brasileiro Nélson Rodrigues (que eu considero fantástica!), que diz o seguinte: “Invejo a burrice, porque é eterna”. Não julgo, nem condeno meu avô por isso, pois se o fizesse estaria sendo preconceituosa. Apenas o tomei como exemplo pela sua proximidade comigo e com o tema aqui abordado. Gostaria muito que este exemplo fosse com outra pessoa, alguém fora da minha família, mas não podia omitir essa realidade da minha vida; não me sentiria digna de escrever um artigo sobre um tema tão recorrente em nosso cotidiano sem dar a ele o máximo de veracidade, de proximidade com o mundo real. Acho, inclusive, que se eu tivesse a mesma educação que meu avô teve e tivesse convivido com as mesmas pessoas com as quais ele conviveu, talvez eu também fosse racista. E acho também que se meu avô e todas as pessoas preconceituosas que aqui estão e por aqui passaram se preocupassem menos com as cores de nossas peles, com a nossa aparência e com nossas religiões, talvez hoje não existissem tantas guerras. A intolerância é o grande mal da humanidade. Não podemos generalizar nossas idéias sobre todas as pessoas, pois as pessoas são diferentes e possuem ou deveriam possuir os mesmos direitos. A generalização é burra e a burrice, se não for combatida a tempo, pode se tornar eterna. PRECISAMOS COMBATER A BURRICE! Se nós lêssemos os mesmos livros, a mesma bíblia, escutássemos as mesmas canções e falássemos a mesma língua (a do coração), perceberíamos que a vida é bem maior que as diferenças, e que o amor é bem mais sublime que o poder, e não engana feito as aparências.