Em sua primeira edição, Caravana da Integração leva atendimentos para povos indígenas e comunidades tradicionais de Tamboril

27 de junho de 2025 - 16:37 # #

Assessoria de Comunicação da SPS
Texto:
Rafaela Leite
Fotos: Mariana Parente

Enquanto aguarda o atendimento para atualizar seu Cadastro Único, Dona Gorete (61) é embalada pelos sons de maracás, palmas e batuques que guiaram a sexta-feira (27) da Comunidade Quilombola Encantados do Bom Jardim, no município de Tamboril. As atividades integram a “Caravana da Integração: Fortalecendo Raízes”, iniciativa do Governo do Estado, coordenada pela Secretaria da Proteção Social, para aproximar políticas públicas de populações indígenas e comunidades tradicionais do interior cearense.

Moradora de Brutos, Gorete fala sobre seus antepassados, sua história e sobre a alegria de ver serviços públicos chegando mais perto de sua comunidade. “Eu tenho sangue de indígena, caboclo, me casei com um quilombola e hoje vim com meu filho José Augusto (27) para prestigiar. Eu tenho diabetes, então também vou atrás dos serviços de saúde. Quero ver minha pressão, ver os outros atendimentos, ô se não. Para nós, da comunidade, é bom demais”, celebra.

A Caravana é organizada pela Secretaria da Proteção Social (SPS), em parceria com secretarias e entidades do Estado. Nesta primeira edição, o evento conta, também, com a participação da Prefeitura de Tamboril, município que fica há aproximadamente 300km da Capital cearense.

Entre os participantes da apresentação de Toré, que abriu o evento, está a estudante Maria Elizeuda Potyguara (26). “A gente, da Aldeia Sítio, está com um público que está se dividindo dentro dos serviços. Minha mãe está aqui já falando com o pessoal do território, para saber como funcionam as leis que amparam, porque a luta pela terra é a mãe de todas as lutas, a gente tem um refrão que diz “terra livre, vida garantida”. Tem também o pessoal que está distribuído, participando de tudo um pouco”, conta.

Na tenda da comunidade Potyguara, Elizeuda mostra algumas das peças trazidas pelo seu povo. Entre sementes, crochês e verduras da agricultura familiar, ela destaca a Caravana como um momento histórico. “Tendo ali um município como referência, deixar o município e vir exatamente para esse terreiro, esse espaço que é de luta, é de história, é demarcar, é respeitar a presença e a luta dos povos indígenas. Ninguém vê o tanto de pessoas que resistiram, que tombaram para a gente conseguir isso hoje. Então é resultado de luta. É uma conquista, mas é uma conquista de muita luta, de muitas pessoas”, afirma.

Secretário-executivo da Proteção Social (SPS), Ecildo Filho ressalta a importância de ações que venham até os municípios, até as pessoas que mais precisam. “Essa política fortalece esses povos originários e comunidades tradicionais, porque historicamente eles foram esquecidos pelas políticas públicas brasileiras, e o Governo do Estado do Ceará tem um olhar diferenciado. Esse ano foram realizadas oficinas em todas as 14 macrorregiões do Estado, um momento de capacitar os profissionais do Suas para incluir esses povos nas políticas. Para a gente, é um momento de muita alegria”, pontuou o gestor.

Garantir cidadania a quem mais precisa


O evento foi marcado por rodas de conversa, oficinas e uma série de atendimentos de assistência social, cidadania, saúde e apoio jurídico. Durante todo o dia, povos originários, povos e comunidades tradicionais, população negra e população em geral puderam acessar serviços como o Caminhão do Cidadão, com emissão da documentação básica.

É o caso da dona de casa Marinise dos Santos (45), que chegou no evento logo cedo, para garantir sua nova Carteira de Identidade Nacional (CIN). “Eu soube da caravana, estava precisando da identidade e aproveitei, coloquei meu nome para vir, eu e meu esposo. Cheguei aqui, tinha a tenda para os cachorros, com vacina e coleira, aproveitei também. Geralmente eu pago para vacinar o Shacke, já estava com mais de anos que ele não tinha se vacinado, e já que tem de graça, vamos aproveitar! Vou terminar de fazer minha identidade, e vou procurando para ver se tem mais serviços”, celebrou.

Fortalecimento da Agricultura Familiar

Além de atendimentos básicos para programas e benefícios, foram ofertados serviços específicos para artesãos, idosos, indígenas e agricultores familiares.

Ana Claudia Rodrigues (36) é agricultora e mora na comunidade quilombola da Lagoa das Pedras. Ao lado da filha, Maria Vitória (15), ela conta que aproveitou a caravana para garantir seus documentos de agricultura familiar. “Produzo feijão, milho, jerimum, melancia. Tudo isso a gente planta. E hoje eu vim tirar meus documentos, fazer emissão de CAF [Cadastro Nacional de Agricultura Familiar], cadastro, e tudo isso eu estou fazendo aqui”, celebra.

“Para mim, é um pouco mais difícil de sair por causa da Maria Vitória, que tem microcefalia. Então, quando falaram que tinha como resolver aqui, eu falei “que bom”. Preparei toda a minha documentação para resolver tudo aqui”, completa ela, que, com o cadastro, terá acesso a benefícios como Programas do Governo Federal, Seguro Safra, Cadastro de Sementes, entre outros.

Na tenda ali perto, a também agricultora familiar Antonia Maria Aguiar (67) participava de roda de conversa sobre Segurança Alimentar e Nutricional, promovida por profissionais da SPS. Ela conta que, em seu quintal, planta banana, murici, acerola e milho. “Eu vim participar de tudo. Aprendi várias coisas para os meus quintais. Tenho tudo plantado lá em casa, e a gente falou sobre não colocar veneno nas plantas. Falar para os mais jovens sobre alimentação, sal, sementes. Foi muito bom”, ressaltou.

Qualificação e desenvolvimento

Outro serviço disponível na caravana foi a Qualificação Profissional, ofertada pela Coordenadoria de Inclusão Social (Cois) da SPS. Maria Letícia (18) é umbandista e moradora da comunidade quilombola Bom Jardim. Ela conta que veio à caravana acompanhada da mãe e da irmã, para conhecer os jogos de búzios e ver a apresentação dos povos de terreiro, mas teve a surpresa de sair inscrita para uma nova qualificação.

“Eu sou maquiadora e estou fazendo cursos para me aprimorar, mas os cursos de maquiagem são extremamente caros, principalmente para a gente, que não tem uma renda fixa, então ter o curso de maquiagem de graça, aqui na comunidade, foi muito bom. Fiquei muito feliz, porque vou poder aprimorar meus conhecimentos de maquiagem e para evoluir profissionalmente”, relatou.

O evento também teve participação de associações quilombolas, Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), secretarias municipais, além de órgãos públicos e privados.