Pensando sobre a acessibilidade dificultada

4 de outubro de 2010 - 14:11

 

Laboratório de Inclusão

 

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Pensando sobre a acessibilidade dificultada

    Luciana de Brito Santos – Estudante de Ciências Sociais – Estagiária da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social e membro do Grupo de Estudos e Apoio à Acessibilidade Humana da STDS.

    A problemática da acessibilidade dificultada (AD) apresenta-se como um tema contemporâneo em nossa sociedade brasileira. Historicamente, a questão da AD em crianças ou adultos foi algo encarado sempre com muito receio e vergonha seja pelos pais, familiares ou grande parte da sociedade. Valores provenientes de uma visão de cunho religioso que predominava no imaginário das pessoas, sobretudo em meados do século XV, justificavam a questão da AD como um tipo de punição ou mesmo como uma espécie de maldição. Esse pensamento perseverou como uma verdade durante muitos séculos e até hoje ainda encontramos pessoas que acreditam neste tipo de posicionamento. Esta herança cultural religiosa de todo um povo reflete-se em nossa sociedade brasileira com bastante veemência até hoje, o que representa em muitos casos um fator que dificulta ou emperra maiores avanços para a grande empreitada que um projeto de inclusão se propõe a realizar. Mesmo assim, felizmente, podemos constatar que o pensamento de nossa sociedade com relação à questão das pessoas com necessidades especiais vem se modificando, embora muito lentamente, mas para grande parte dos educadores já representa um grande salto, pois é a partir da mudança ideológica de um povo que podemos constatar os primeiros avanços. A questão da inclusão de pessoas com acessibilidade dificultada configura-se como um tema relativamente novo que só agora, devido a um esforço realizado anteriormente pelas legislações, constituições e atualmente reiterado pelo apoio da mídia no intuito de despertar ou de inicialmente tentar esclarecer a população para alguns problemas comuns para as pessoas com AD, mas incomuns ou desconhecidos à nós, começamos a pensar e a problematizar a questão dessas pessoas. Esperamos ,contudo, que os esforços empenhados para a causa não se estagnem e não se tornem mais um sonho utópico como tantos outros idealizados em nossa sociedade. Esperamos que toda esta efervescência difundida no momento atual sobre a questão das pessoas especiais possa gerar num futuro não muito distante uma análise crítica acerca das nossas ações, esforços e posicionamentos que por tantos anos fomos indiferentes e até cruéis com aqueles que por terem ou apresentarem necessidades específicas ou especiais foram subjugados pelos seus semelhantes por serem “diferentes” dos ditos “normais”. Não esperamos, contudo, que simplesmente sejam criadas “cotas” para “contemplar” esta parcela da população e assim por meio de uma tentativa de uma medida paliativa deturpar o real sentido de estar socialmente amparado pelo “Estado de bem estar social”, uma vez que entendemos que se hoje se faz necessária uma política internacional de “inserção social” desta parcela da população através de programas especiais de educação e sociabilidade, é porque a própria sociedade excluiu esta parcela. Por hora, depositamos nossos esforços e fiéis esperanças na certeza de que este é apenas o primeiro passo para a construção do ideário de uma sociedade mais humana, igualitária, política e socialmente comprometida com o bem estar de todas as pessoas que a compõem em uma perspectiva global. Que a possibilidade de conceber a questão da acessibilidade dificultada como sendo uma parcela importante de nossa sociedade e de nosso convívio se torne uma realidade possível de concebermos, livre de preconceitos e processos estigmatizantes, respeitando todas as diferenças e formulando uma sociedade que saiba valorizar as potencialidades de cada um de seus cidadãos e canalizá-las para o desenvolvimento saudável do todo do núcleo social em que estamos inseridos.