Abrigo Tia Júlia: onde os filhos são gestados no coração

24 de maio de 2019 - 14:34

Texto: Keiliane Gomes Fotos: Drawlio Joca

A Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos

Acordar, se arrumar, tomar café, seguir para a escola, retornar para a unidade, almoçar, descansar um bocadinho, fazer a tarefa de casa e ainda ter energia para brincar. Como a rotina de qualquer criança, esse é o dia dos pequenos que moram no Abrigo Tia Júlia, em Fortaleza. O objetivo da equipe é fazer do cotidiano dos pequenos o mais natural e familiar possível até que eles sejam adotados ou por outra família ou tenham seus vínculos restabelecidos com suas famílias biológicas. Até maio, seis crianças foram adotadas e ganharam novos lares. O número é maior que todo o ano passado, quando cinco crianças conseguiram novas famílias.

 

Ainda este ano, outras quatro crianças restabeleceram vínculos e foram reintegradas às famílias naturais. “É maravilhoso quando a criança consegue retornar para a família, quando a família entende que estava violando os direitos de seu filho, de sua filha e muda todo o quadro para reaver a guarda. Ou quando ela é inserida em uma nova família através da adoção. Esses são momentos de grande emoção e imensa alegria”, destaca a assistente social do Abrigo, Janaína de Sousa.

Das 59 crianças atualmente abrigadas, 25 são meninas e 34 meninos. Além disso, 25 crianças têm necessidades especiais, sejam motoras ou cognitivas, e recebem tratamento especializado. O Abrigo Tia Júlia, coordenado pela Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), conta com 125 profissionais. Eles formam uma equipe multidisciplinar que dispõe de assistentes sociais, pedagogas, psicólogos, nutricionistas, economistas domésticas, enfermeiras, fisioterapeutas, além do apoio administrativo, auxiliares de enfermagem, cozinheira e lactarista.

As crianças chegam ao abrigo por determinação judicial, em decorrência de violação de direitos ou pela impossibilidade de cuidado e proteção por sua família. A partir da entrada na unidade, é feito um trabalho para a inserção da criança em uma vivência mais saudável. “Quando uma criança chega, fazemos o acolhimento, conversamos com a equipe que a acompanha, procuramos saber o histórico daquela criança e o que a levou a ter que ser acolhida, a precisar ser retirada do seio de sua família. Então o psicólogo inicia o atendimento para que ela comece a se adaptar. Especialmente quando as crianças já são grandinhas, o baque da chegada à unidade é muito grande”, explica a assistente social .

Mãe de Maria Valentina, de cinco anos, Nathalia Martins encontrou sua filha no Abrigo Tia Júlia e diz que não consegue pensar sobre como era sua vida antes da pequena. “Já não me sinto completa sem ela. Nosso amor foi construído. No instante em que você abre seu coração, toda aquela questão dos requisitos que você imagina para uma criança, vai sumindo. Filho não tem requisito. O desejo maior é que haja amor, respeito entre todos. Filhos adotivos crescem de forma diferente, eles vão crescendo dentro do coração”, destaca Nathalia.

Além do Abrigo Tia Júlia, a SPS administra diretamente outras três unidades de acolhimento. As quatro unidades abrigam hoje 144 crianças e adolescentes. Algumas estão em destituição do poder familiar, outras já integram o cadastro nacional de adoção. Há ainda seis unidades administradas em parceria entre SPS e Organizações da Sociedade Civil. Nessas, 106 crianças e adolescentes estão abrigadas.

Às vésperas do Dia Nacional da Adoção (25 de maio), a secretária da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos, Socorro França, destaca o esforço do Estado em abrigar e cuidar dessas crianças e adolescentes, enquanto a Justiça não determina um novo rumo para seus caminhos. “Nosso objetivo é garantir que as crianças e os adolescentes que estão sob a nossa tutela tenham uma vida o mais próximo possível da normalidade, tendo garantidos todas duas assistências, sejam elas de saúde, educação, cultura e outras. E é também oferecer a eles carinho e amor, integrá-los e alimentar a irmandade entre eles”, aponta.