Ceará é pioneiro na implantação de programa de parentalidade como política pública

22 de março de 2023 - 13:46 # # # #

Assessoria de Comunicação da SPS
Texto:
Sheyla Castelo Branco
Fotos:Claudio Rocha e Arquivo/SPS

O ACT é usado em 24 municípios do Estado para orientar pais e cuidadores sobre práticas adequadas de disciplina no processo de educação dos filhos

Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das metodologias mais eficazes para reduzir os riscos de violência contra crianças, o ACT – Como educar crianças em ambientes seguros visa fortalecer os vínculos familiares e diminuir a distância afetiva entre pais e filhos. Adepta da ferramenta, a Secretaria da Proteção Social (SPS) investiu nesta metodologia inovadora, que funciona desde 2020, no Ceará, e já está presente em 24 municípios do Estado, incluindo a Capital, Fortaleza.

O público-alvo são famílias com crianças na faixa etária de 0 a 8 anos, em situação de vulnerabilidade socioeconômica e que sejam atendidas por programas sociais como Bolsa Família e Cartão Mais Infância. As formações contemplam oito encontros com grupos de no máximo de 20 pessoas, dentre mães, pais e cuidadores. O ACT foca na parentalidade positiva e reúne os grupos uma vez por semana.

A titular da SPS, Onélia Santana, lembra que o ACT já contemplou, até fevereiro deste ano, mais de mil famílias no Ceará. “Nós que atuamos com políticas para primeira infância no Ceará, sabíamos que o ACT seria uma forma eficaz de romper com o ciclo intergeracional da violência que, infelizmente, ainda faz com que muitas famílias naturalizem palmadas, gritos e outras formas de violência na educação de seus filhos. Para romper com estes comportamentos, que podem trazer consequências sérias ao desenvolvimento das crianças, é que trouxemos o ACT para o nosso Estado e hoje somos referência nacional na implantação bem sucedida do programa como política pública”, destaca Onélia Santana.

Como romper com a educação punitiva
Dagmar Soares, coordenadora do Programa Mais Infância Ceará e uma das facilitadoras das formações do ACT no Estado, relembra que, em 2019, foi feito um primeiro trabalho com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal no Ceará. Na pesquisa Primeira Infância para Adultos Saudáveis (PIPAS), realizada em 15 municípios do Estado, foi descoberto que 83% das famílias pesquisadas, independente da classe social, usavam alguma forma de educação punitiva para criar seus filhos e filhas.

A coordenadora ressalta que este resultado indicou a urgência de trabalhar a quebra do ciclo da violência entre as gerações com as famílias cearenses. “Foi neste contexto que entramos em contato com o ACT. A secretária Onélia Santana investiu nesta metodologia e articulou um Termo de Cooperação com as fundações Maria Cecilia Souto Vidigal, Porticus América Latina e Bernard van Leer que formaram uma coalizão com o Governo do Ceará, no propósito de promover o desenvolvimento infantil, em especial, das famílias com crianças em situação de vulnerabilidade social”, conta Dagmar.

A psicóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Mental da USP de Ribeirão Preto, Elisa Altafim, introduziu o ACT no Brasil em 2012. Segundo ela, o Ceará é o primeiro estado do Brasil a implantar o ACT como política pública em larga escala e vinculada a um programa de transferência de renda, o Cartão Mais Infância. Ela destaca que, muitas vezes, pais e mães reproduzem a violência a que foram submetidos na infância. Foi o caso de Aila de Sousa, que participou dos encontros do ACT no centro comunitário São Vicente.

“Fui criada com uma educação em que criança não podia ter opinião, tinha que calar quando estivesse em um ambiente com adultos. Uma educação que hoje entendo que era autoritária, e também entendo que na época era o que os meus pais podiam me oferecer, de acordo com o acesso que eles tiveram”, explica Aila.

Mãe do Pablo (14), da Pérola (10) e da Pétala (7), Aila observa que já sente os resultados positivos na relação. “Percebi que eu e a maioria das outras mães tínhamos algo em comum: a sobrecarga, o trabalho doméstico e o trabalho fora de casa. Nem sempre é fácil ter paciência com uma rotina de atividades pesadas e que exigem muito de nós. No ACT entendi que preciso exercitar a paciência, sem julgamentos, sabendo que posso errar e que o mais importante é buscar o caminho do diálogo. Entender que meus filhos são indivíduos em formação e que preciso perceber os limites deles, saber escutá-los, contar até dez, deixar eles desabafarem e depois mostrar o meu ponto de vista”, conta

Ferramenta transformadora
Elisa Altafim destaca que o Ceará já é um modelo para outros estados e observa que as equipes têm atuado com muito empenho e repassado um feedback positivo do quanto o ACT tem transformado as famílias atendidas nos equipamentos socioassistenciais, sobretudo, quando vinculado a outros programas sociais como o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) e o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif).

A pesquisadora Beatriz Linhares ressalta que o ACT está interferindo na base do desenvolvimento humano, e indiretamente, isto vai fortalecer a sociedade como um todo. “Se tivermos famílias menos violentas, que tenham mais disciplina positiva, que saibam se comunicar e tenham regulação das suas emoções, impulsos e comportamentos, poderemos ter comunidades mais adaptativas, menos violentas, e uma sociedade menos violenta também. Desta forma, podemos quebrar o ciclo intergeracional da violência e iniciar um ciclo positivo. É urgente proteger as crianças, especialmente investindo na primeira infância, porque é o desenvolvimento mais sustentável de uma sociedade. E, dessa forma, ao proteger por meio da educação, da saúde e da proteção social, poderemos atingir o pleno desenvolvimento das crianças”, destaca.