Oficinas trabalham pertencimento étnico e combate ao racismo em comunidades quilombolas do Ceará

27 de março de 2024 - 16:14 # # # # # # #

Assessoria de Comunicação da SPS
Texto:
Rafaela Leite
Fotos: Beatriz Souza

Parceria da Seir e SPS, a iniciativa visa capacitar profissionais da saúde, assistência social e educação que atendem a primeira infância quilombola do Estado

Para trabalhar a questão étnico-racial, com foco na primeira infância, o Governo do Ceará está realizando uma série de oficinas em comunidades quilombolas do Estado. A partir desta semana, a Secretaria da Proteção Social (SPS) conta um pouco da trajetória das políticas públicas de igualdade racial e promoção do desenvolvimento infantil, nesta ação itinerante que vem levando capacitação e implementação de práticas antirracistas.

A ideia é abordar as evidências do racismo estrutural e institucional na sociedade brasileira, os caminhos para uma primeira infância antirracista na assistência social, e os pactos coletivos realizados entre profissionais do serviço público, sociedade e famílias, atuando nos quilombos, com aqueles que estão diretamente ligados a essa população, na busca diária pela transformação através da educação, saúde e assistência social.

“É preciso que a saúde, a assistência social e a educação, trabalhando com a primeira infância, discutam um fenômeno planetário que é o racismo. Então o racismo na infância não é brincadeira pesada, não é bullying, é algo que define lugar para essas crianças”, ressalta a secretária da Igualdade Racial, Zelma Madeira.

A frase faz referência às oficinas municipais de pertencimento étnico-racial na primeira infância, realizadas na comunidade quilombola de Alto Alegre, município de Horizonte, na última semana. Esta foi a segunda de um série de encontros para trabalhar a temática, com foco no desenvolvimento infantil em territórios quilombolas cearenses. Projeto piloto no Estado, a ação é uma parceria da Secretaria de Igualdade Racial (Seir) e Secretaria da Proteção Social (SPS) e faz parte do programa Criança Feliz.

Em Horizonte, o evento contou com 60 participantes, entre representantes da comunidade e profissionais da assistência social, saúde, educação e cultura, que trabalham com a primeira infância quilombola da região.

Coordenadora especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Wanessa Brandão explica que o objetivo das oficinas é a capacitação de servidores públicos municipais da assistência social, saúde e educação, bem como outros profissionais que o município entenda como relevantes para o trabalho com este público. “Nosso objetivo é formar os profissionais para trabalhar com a primeira infância antirracista e com as suas famílias, e que possamos pensar a promoção da igualdade racial como um todo no município. Esses profissionais seriam os multiplicadores desse processo de formação”, explica.

Wanessa Brandão destacou a importância de fomentar a discussão sobre o racismo na infância. Ela observa que, muitas vezes, o profissional acredita achar forte discutir o tema com crianças, e não percebe que, na prática, uma criança pode estar vivenciando. “Precisamos achar as palavras certas para conversar com elas sobre isso. Vamos nos responsabilizar por esse local que ocupamos, enquanto trabalhadores das políticas públicas”, ressaltou.

Oficinas municipais

Coordenadora do Programa Mais Infância Ceará, na SPS, Dagmar Soares destaca a importância de abordar o racismo e o pertencimento étnico desde a primeira infância. “É na infância que tudo começa, e hoje a gente sabe que, entre crianças com a mesma vulnerabilidade, seja ela social, econômica, existe o agravante para as crianças negras, porque elas sofrem, ainda, pelo impacto do racismo”, destaca. “Isso prejudica a autoestima, gera insegurança, e tem também a questão do pertencimento, a falta de ter pessoas que sejam modelos, que sejam exemplos. Isso prejudica o seu desenvolvimento”, completa.

Educação antirracista

Neste primeiro momento, foram selecionados cinco municípios para desenvolvimento da ação: Trairi, Horizonte, Poranga, Monsenhor Tabosa e Pacujá. A escolha se deu entre municípios que já haviam sido candidatos ao Selo Município Sem Racismo.

Tatiana da Silva (36) é coordenadora da Promoção de Políticas da Igualdade Racial de Horizonte (NUPPIRH) e foi uma das participantes do primeiro dia da oficina. Natural de Horizonte, ela faz parte da sexta geração de Negro Cazuza, fundador da comunidade quilombola de Alto Alegre, e enxerga a iniciativa como fundamental para as crianças e para os profissionais do município.

“Eu sou muito suspeita pra falar dessa questão da primeira infância porque eu vejo a potência que é. Se queremos uma sociedade diferente da que temos hoje, que é de violências diárias, morte, pessoas machucadas por causa da cor… A gente sabe que o racismo mata, adoece. Então, quando a gente pensa nessa possibilidade de estar trabalhando a infância, que a gente sabe que vai ser o futuro, eu acredito muito que estamos no caminho certo, na busca da eliminação do racismo”, afirma.

Os encontros seguem, até junho, nas comunidades de Poranga, Monsenhor Tabosa e Pacujá.