Assistência Social ajuda a fortalecer tradições em comunidades tradicionais

8 de abril de 2025 - 14:27 # # # #

Assessoria de Comunicação da SPS
Texto:
Sheyla Castelo Branco
Fotos: Mariana Parente

No Brasil, há 1.327.802 pessoas quilombolas. No Ceará, 23,9 mil pessoas se auto identificam como remanescentes de quilombos. No Ceará, 68 municípios possuem presença de quilombolas. Quixadá e Morrinhos integram as 113 comunidades quilombolas presentes no Estado. Os dois municípios se destacam por experiências exitosas na Assistência Social.

Quixadá desenvolveu uma plataforma para a Primeira Infância no Suas. O trabalho, que apoia as equipes de visitadores e supervisores do Programa Criança Feliz, lhe rendeu destaque na 3° Mostra de Experiências exitosas em vigilância socioassistencial, realizada pela Secretaria da Proteção Social do Estado (SPS). O município realiza um trabalho integrado no território quilombola no Sítio Veiga, que fica no alto da serra do distrito de Dom Maurício. No local, vivem 55 famílias quilombolas.

A plataforma desenvolvida contribui para o acompanhamento mais eficaz e personalizado das famílias, além de estimular a troca de informações e experiências entre os diferentes atores envolvidos no programa, como visitadores, supervisores, gestores e parceiros, favorecendo a integração e a colaboração em prol do desenvolvimento infantil.

Tais Ferreira é supervisora do Criança Feliz no município e liderança da comunidade quilombola do Sítio Veiga. Ela conta que levar o programa para sua comunidade foi uma das ações mais importantes implementadas pela política da assistência social no território. “Entre 2019 e 2023, acompanhei 33 famílias do nosso quilombo. Foi um período muito importante porque, através do Criança Feliz, as famílias souberam dos outros serviços de assistência ofertados pelo Cras e puderam buscar benefícios que tinham direito. Durante as visitas, trabalhei muito a parentalidade positiva e a importância do brincar como uma forma de desenvolver a autonomia das crianças quilombolas, além de priorizar, nas atividades desenvolvidas com eles, nossa cultura e costumes”, frisa Tais.

Reconhecido em 2022 como Mestre da Cultura, Seu Joaquim Roseno, 86, é um dos quilombolas mais velhos do Sítio Veiga. Mestre Joaquim mantém viva a tradição da dança de São Gonçalo, a Roda de São Gonçalo, uma festa com música e dança em homenagem a São Gonçalo de Amarante, para pagar promessas e agradecer pelas graças alcançadas. “Essa dança faz parte da nossa identidade, aprendi a dançar e tocar o tamborzinho com meu pai e agora passo esse conhecimento para as outras gerações do nosso quilombo. Na dança a gente pede por melhorias, já pedi muito por água na nossa região”, conta seu Joaquim.

Além de ações para valorização da cultura e dos costumes do povo quilombola, o Cras Rachel de Queiroz, que referencia o distrito de Dom Maurício, dá assistência aos moradores do Sítio Veiga e ajuda na atualização de dados no CadÚnico e com informações sobre benefícios dos governos estadual e federal.

Maria Milene, 29, mora no Sítio Veiga e recebe o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que ajuda nas despesas de casa e na alimentação das duas filhas: Sabrina, 13, e Safira, 7. “Meu esposo faz bicos com serviços de agricultura e de construção, mas não tem nada fixo. A renda daqui de casa varia de acordo com o trabalho que ele consegue. A única coisa certa é o BPC, que ajuda demais com as despesas, sobretudo na compra dos remédios da Sabrina, que tem uma deficiência intelectual moderada e precisa de medicamentos específicos”, lembra Maria Milene, recentemente atendida no Cras Rachel de Queiroz, onde atualizou o CadÚnico para seguir recebendo o BPC. Ela lembra que antes era mais difícil para eles do quilombo. “A gente tinha que descer a serra, enfrentar a estrada carroçável para ir até o Cras e ser atendido. Agora, temos esse atendimento dentro do Sítio Veiga. Elas vêm na nossa casa, tiram nossas dúvidas e fazem os encaminhamentos necessários, isso facilitou muito para gente aqui do quilombo que precisa dos benefícios”, relata Maria Milene.

Na casa ao lado mora Eliete de Oliveira, 37, que faz faxinas sempre que pode para melhorar a renda da família. Eliete é mãe de Maria do Socorro, 5, Artur Wilker, 12 e Ana Clara, 18. “O dinheiro que ganho nas faxinas ajuda um pouco, mas é o Bolsa Família que garante a comida na nossa mesa. Estou muito empolgada porque sei que o Cras vai trazer uns cursos de capacitação para as mulheres aqui do quilombo e eu com certeza vou participar porque quero garantir uma renda melhor para nossa família”, conta Eliete.

A secretária titular da SPS, Jade Romero, destaca que para se trabalhar com os grupos de povos tradicionais e específicos é fundamental compreender, acima de tudo, sua relação com o território. “É no território que se sustenta todo o modo de vida desses povos, suas relações sociais e o sistema deles de crenças e conhecimento sobre o mundo. Para aproximar as políticas sociais destes territórios é fundamental conhecer quem são e quais suas principais características. Tendo em vista tudo isto, o diagnóstico socioterritorial é imprescindível para o planejamento da política de Assistência Social, porque é através dele que identificamos e analisamos as potencialidades e vulnerabilidades dos territórios, agindo de modo a prevenir riscos e levar o acesso integrado às políticas públicas”, conclui Jade Romero.

A secretária de assistência social de Quixadá, Izaura Oliveira, ressalta que os encontros realizados pela SPS fortaleceram as equipes do município, trazendo ganhos para a política de Assistência Social da cidade. “As capacitações conduzidas pelos profissionais da SPS nos deram ainda mais subsídios para realizar os atendimentos em territórios tradicionais.Todo esse movimento, tanto do reconhecimento do nosso trabalho na Mostra de experiências exitosas, como da capacitação com técnicos do SUAS, nos instigou a desenvolver mais ações nestes territórios e a estreitar essa relação com os povos tradicionais de Quixadá”, pontua a gestora

A coordenadora do Cras Rachel de Queiroz, Juliana Guedes, explica que as ações do Cras têm sido sempre no sentido de aproximar os serviços socioassistenciais das famílias quilombolas. Estamos levando profissionais até a comunidade para apresentar os serviços da Rede socioassistencial e também para que eles saibam que nós vamos fazer essa interlocução com outras secretarias para levar os serviços que eles tanto precisam”, Juliana ainda conta que as profissionais do Cras vão se reunir uma vez por semana para realizar uma roda de conversa no Sítio Veiga, fortalecendo os laços de confiança das famílias com os profissionais da assistência social.

Assim como Quixadá, Morrinhos foi um dos destaques da 3° Mostra de Experiências exitosas em vigilância socioassistencial realizada pela SPS. O município trabalhou com eficiência na qualificação das informações territorializadas para a implantação da oferta continuada dos serviços de proteção social básica, reconhecendo e incluindo as crianças quilombolas na primeira infância e seus familiares como público prioritário na política de Assistência Social de Morrinhos.

A secretária da Assistência Social de Morrinhos, Marília Soares, ressalta que para identificar este público prioritário, residente nos agrupamentos quilombolas de Morrinhos, foram coletados dados dos programas estaduais e federais, nas áreas da educação e assistência social. “A nossa perspectiva desde o início era integrar as políticas de benefícios como o Programa Bolsa Família, Ceará sem Fome, Cartão Mais Infância, dentre outras políticas, e tivemos resultados positivos, tanto que fomos reconhecidos na mostra realizada pela SPS”, lembra Marília.

O Quilombo Junco Manso, em Morrinhos, foi contemplado com o Programa Ceará sem Fome, e atualmente distribui diariamente 100 refeições, beneficiando 36 famílias em situação de vulnerabilidade social. No processo de atualização das informações socioassistenciais foi priorizado o registro de informações sobre crianças de zero a seis anos, residentes nos três agrupamentos quilombolas de Morrinhos: Alto Alegre, Junco Manso e Curralinho, que somam 103 crianças na Primeira Infância.

Marília pontua que a autodeclaração é um processo ainda delicado, que envolve questões estruturais, daí a importância da capacitação realizada pela SPS para os os técnicos atuantes nestes territórios. “Entendemos que é preciso sensibilizá-los para que saibam como abordar este público e aprendemos que a equipe deve antes da abordagem, mapear e buscar informações e dados oficiais nos órgãos competentes, com antropólogos e especialistas em povos tradicionais”, complementa a secretária municipal.

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