Acessibilidade: Intérpretes atendem e esclarecem dúvidas da comunidade surda na pandemia

29 de junho de 2020 - 15:36

Viver em um mundo sem som é um desafio para diversas tarefas diárias, como pagar uma conta, fazer um pedido no restaurante ou simplesmente se informar. Acessibilidade é um direito e para ajudar na garantia desse direito, a Central de Interpretação de Libras (CIL) atua como ponte entre ouvintes e comunidade surda, promovendo autonomia e acesso aos serviços públicos. Durante o isolamento social, a CIL está atendendo remotamente e presencialmente, se necessário. A Central integra a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Pessoa Idosa e Pessoa com Deficiência (Copid) da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS).

A coordenadora da Copid, Vyna Leite, explica que há demandas para interpretação médica, jurídica, policial, INSS, Sine IDT, dentre outras. “Neste período de isolamento social estamos recebendo muitas solicitações das áreas da saúde e segurança. Temos muitas demandas de hospitais, Promotoria de Justiça, Delegacia de Proteção a Pessoas com Deficiência e da própria Casa da Mulher Brasileira, por conta do aumento no número de denúncias de violência contra a mulher surda”, destaca a coordenadora.

A CIL Ceará reúne três intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras): Aljaniele Amorim, Fabiano Farias e Michael Silva. Os profissionais auxiliam pessoas com deficiência auditiva, surdos e surdocegos com tradução e interpretação da linguagem de sinais.

Há dez anos trabalhando como tradutora e intérprete de libras, Aljaniele Amorim, aprendeu a língua de sinais ainda nas brincadeiras de infância, em Maracanaú. “Quem abriu a porta para que eu entrasse no universo das libras foi meu amigo Washington. Eu lembro de ficar ansiosa porque queria entender os sinais que ele utilizava para se comunicar e foi assim que começamos nossa amizade. Ele sempre trazia uma folhinha com vários nomes e me ensinava o sinal que deveria usar para cada uma daquelas palavras e assim ficávamos por horas na calçada de casa”, relembra.

Graduada em Letras Libras, Aljaniele atua na CIL desde 2016, ano em que o equipamento foi criado. “Uma das experiências que nunca vou esquecer é do dia em que chegou um senhor surdo na sede da CIL pedindo nossa ajuda. Ele estava com dor e precisava de um intérprete para acompanhá-lo na ida ao médico. Foi naquele dia que percebi a força da minha profissão e o quanto eu posso fazer a diferença na vida de tantas pessoas através do meu trabalho”, completa.

Caçula de três irmãos, o carioca Fabiano Farias, aprendeu a língua de sinais aos dois anos de idade. “Sou filho de pais surdos e senti desde muito cedo o quanto nossa sociedade é excludente com quem tem uma deficiência. A falta de acessibilidade é uma violação de direito que tira a autonomia de milhares de pessoas. Passei a infância e a adolescência vendo a luta dos meus pais para se inserir nos espaços e garantirem seus direitos enquanto cidadãos. Foram diversas situações em bancos, lojas de roupa, enfim, tudo isso serviu também para que eu entendesse a libras para além de uma língua, como uma ferramenta poderosa de autonomia e inclusão”, frisa Fabiano.


Ele explica que a língua de sinais tem também suas particularidades, com uma estrutura morfológica e sintaxe, além de uma parte fonética. “Mesmo sem som, na libras existem mudanças de acordo com a região e o sotaque, e isso só se aprende na convivência com nativos do lugar. Quando cheguei do Rio, tive que fazer outros cursos e exercitar bastante para aprender as nuances da Libras utilizada aqui”, conta Fabiano, que fez curso de Libras ainda no Rio de Janeiro, na associação Alvorada.

Já Michael Silva conheceu a Libras em 2013, mas só sabia o básico. Até então nunca tinha se aprofundado. “Sempre tive muitos amigos surdos, mas só em 2015 decidi entrar de cabeça nesse processo e passei a frequentar associações, fiz trabalhos voluntários e comecei a sentir que fazia parte da comunidade surda. Eu tenho consciência de que isso só aconteceu quando eu abandonei meu comodismo e entendi que somos todos interdependentes”, reflete.

CIL
A CIL nasceu como um projeto do Governo Federal, ainda em 2015, que ofertou equipamentos e orientações para promover acessibilidade em todo o país. O Estado do Ceará assumiu uma central, que é a CIL Ceará. Os municípios de Fortaleza e de Juazeiro do Norte também assumiram cada um uma CIL, totalizando três centrais em todo o Estado.

SERVIÇO:
Para solicitar o auxílio de intérprete, em Fortaleza, basta enviar um e-mail ou mensagem via Skype para cil.ce.gov@gmail.com.
CIL do município de Fortaleza – (85) 9905-5152
CIL Juazeiro do Norte: (88) 5311-0426 / cil.ce.jn@gmail.com