Crianças do Grande Mucuripe participam de atividades educativas sobre direito à cidade e ao meio ambiente de qualidade

29 de setembro de 2021 - 09:05 # # # #

Crianças que moram no Grande Mucuripe participaram de atividades educativas sobre o direito à cidade e ao meio ambiente de qualidade. A iniciativa da Ação Olhares Eco Protetores, realizada pelo Instituto da Infância (Ifan), em parceria com Rede Nacional pela Primeira Infância (RNPI), ANDI – Comunicação e Direitos, e patrocinada pela Petrobras, promoveu oficinas, plantio de mudas de árvores, pintura de grafites e colóquio para os cuidadores de crianças atendidas pelo Instituto Povo do Mar e pelo Centro Comunitário Santa Terezinha, equipamento da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos.

Vinte e duas crianças do Centro Comunitário participaram das oficinas Caminhos Lúdicos do Grande Mucuripe, que reuniu 32 meninos e meninas. Com idades entre 4 e 11 anos, as crianças aprenderam sobre seus direitos, mais especificamente sobre o direito que possuem de morar em cidades seguras, arborizadas e lúdicas.

Para Luzia Laffite, psicóloga e superintendente executiva do Instituto da Infância, levar às crianças em fase de primeira infância o conhecimento sobre seu direito a cidades e meios ambientes de qualidade é sinônimo de “fazê-las se apropriarem de uma vida saudável no contexto mais amplo da palavra: físico, mental e social. E, assim, elas podem crescer em harmonia consigo mesmas e com os outros”.

Para Sandra Luna, assistente social e supervisora do Centro Comunitário Santa Terezinha, foi uma satisfação atuar junto ao Instituto da Infância: “A gente ficou muito feliz com essa parceria com o Ifan. É um Instituto muito envolvido com a questão da primeira infância, e isso é muito bacana. A gente procura estreitar os laços, as parcerias que são muito bem-vindas”.

Metodologia adaptada para a pandemia
Devido à necessidade de obedecer normas sanitárias para prevenir a contaminação pelo coronavírus, as oficinas tiveram sua metodologia adaptada. Foram realizadas oficinas remotas e presenciais, adotando cuidados como o uso de máscaras e disponibilização de álcool em gel para as crianças.

Nos encontros online, as crianças ouviram contação de história, fizeram passeio aéreo pelas ruas de seus bairros – com auxílio da ferramenta virtual Google Maps – e responderam questionário oral com perguntas sobre o trajeto que fazem de casa até o posto de saúde que frequentam com familiares quando precisam de atendimento médico. O objetivo da “entrevista” foi conhecer as experiências positivas e negativas vividas pelas crianças dentro de um percurso urbano comum em seu dia a dia.

Produção de camisetas “Esse é o Grande Mucuripe dos meus sonhos”

As oficinas presenciais foram realizadas nas sedes do IPOM e do Centro Comunitário Santa Terezinha. As turmas de meninos e meninas aprenderam a diferença entre seus direitos e deveres, e, com base nas conversas da etapa online, foram convidadas a produzir desenhos que representassem como gostariam que fossem os espaços públicos dos bairros onde moram.

Na sequência, as crianças transferiram seus desenhos para camisetas personalizadas com a frase “Esse é o Grande Mucuripe dos meus sonhos”. Árvores, flores, pássaros e mar foram elementos recorrentes nas produções dos pequenos. Flávia Lourenço (10), do C.C. Santa Terezinha, incluiu urnas de coleta seletiva na paisagem que desenhou. “O material reciclável não pode faltar nas ruas por causa que, se não tiver, o meio ambiente fica muito sujo e as plantas morrem, e as plantas são o nosso ar”, expressou. A menina também pintou uma árvore, “passarinhos voando com saúde” e nuvens.

Segundo Alana Aragão, gerente do Projeto Primeira Infância é Prioridade/Ação Olhares Eco Protetores e facilitadora das oficinas, a intenção da atividade foi que as crianças pudessem compreender de forma lúdica os direitos que possuem, podendo experienciar, na prática, a materialização de suas propostas para o Mucuripe dos sonhos delas. A sociedade de hoje, comentou Luzia Laffite, é altamente adultocêntrica, de forma que o “ser criança” e o “estar criança” se dão sob a condição subjetiva do que o adulto julga ser melhor ou pior. “Quando damos possibilidades de a criança nos dizer o que ela gostaria para si, para sua família, para sua comunidade, para o ambiente de seu território e, mais amplamente, para a cidade, estamos lhe oferecendo uma opção de escolha. Mais do que isto, é uma chance dela entender melhor suas potencialidades e necessidades e, aí sim, nós podemos traçar ações que vão ao encontro de sua vida”, defendeu.

Sandra Luna garante que a turma do C.C. Santa Terezinha ficou satisfeita com a realização: “As crianças e suas famílias ficaram felizes, então esse foi um momento muito bacana de agregar essas atividades às nossas ações, porque elas realmente agregam”.

Intervenções: pintura de grafites e plantio de mudas

Para marcar o ciclo na lembrança de todos, a Ação convidou grafiteiros para produzirem, nas sedes das duas instituições, murais inspirados nos desenhos que as crianças fizeram nas oficinas presenciais. Os artistas Spote, Jambo e Bullan reproduziram o compilado de traços e cores em paredes do Instituto Povo do Mar e do Centro Comunitário Santa Terezinha, respectivamente. O trabalho foi realizado sob olhares curiosos e entusiasmados das crianças.

Spote contou que, à medida que os meninos acompanhavam as pinturas, iam reconhecendo seus desenhos. “Esse momento foi surpreendente. Eu estava pintando e eles chegaram fazendo aquela festa, apontando ‘Esse é o meu, esse é o meu!’. Foi muito gratificante ver que estava dando certo, que elas conseguiram identificar seus próprios desenhos”, relatou.

Acolhimento e escuta dos cuidadores

O ciclo de atividades também contou com um momento dedicado aos cuidadores das crianças. No Centro Comunitário Santa Terezinha, enquanto os pequenos participavam da oficina, mães, tias e avós integraram um colóquio para conversar sobre as dificuldades no acesso das crianças a uma cidade de qualidade e a um meio ambiente equilibrado.

Para a dona de casa Patrícia da Silva de Sousa, mãe de Nicolly (8) e Emanuelly (6), a atividade deveria acontecer mais vezes, pois demonstrou preocupação com a infância da região. Patrícia citou a falta de interesse por parte do poder público como uma das conclusões a que o grupo de mulheres chegou no colóquio: “Se os nossos governantes fossem mais abertos ao diálogo, a sentar com os pais, a irem até as escolas para saber a opinião das crianças, eu acho que a gente poderia, sim, fazer uma diferença muito grande. Mas como não há interesse, é por isso que a gente está onde está agora”.

 

Texto e fotos: Nina Ribeiro/Ifan