Formações municipais discutem caminhos para uma primeira infância antirracista na Assistência Social

1 de abril de 2024 - 16:23 # # # # # # #

Assessoria de Comunicação da SPS
Texto:
Rafaela Leite
Fotos: Beatriz Souza

A palestra integra as oficinas municipais para o pertencimento étnico-racial no Estado

Porta de entrada das políticas de assistência social, os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) atuam como espaços de desenvolvimento e fortalecimento de vínculos. Na comunidade quilombola do município de Horizonte, os atendimentos acontecem no Cras Quilombo. É lá onde a comunidade recebe orientações sobre benefícios assistenciais, participa de serviços de convivência e onde, muitas vezes, famílias e crianças trabalham questões como racismo, pertencimento étnico e ancestralidade.

Coordenadora do Programa Criança Feliz no SUAS, Silvana Simões destaca que a assistência social é uma política de proteção e, como tal, precisa ter um olhar especial para comunidades tradicionais que, muitas vezes, têm um acesso dificultado para políticas públicas por se encontrarem na zona rural. “No caso da primeira infância, a assistência social tem um papel primordial na luta contra o racismo, dando visibilidade a esses territórios quilombolas e realizando essa articulação com as demais políticas públicas, através da intersetorialidade”, completa.

A assistência social voltada para o combate ao racismo na primeira infância foi tema de palestra, na comunidade quilombola de Horizonte, na última semana. O evento integrou as oficinas de pertencimento étnico-racial, promovidas pela Secretaria da Igualdade Racial (Seir) e Secretaria da Proteção Social (SPS), e que vêm sendo realizadas em diferentes municípios do Estado.

Técnica de Vigilância Socioassistencial, Thayná Andrade, foi uma das participantes da oficina no município de Horizonte. Psicóloga de formação, ela explica que atuou por nove anos no atendimento dos Cras na região, e afirma que a abordagem de temáticas raciais acontecem diariamente, muitas vezes por parte das próprias famílias, nos grupos do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF).

“Como profissionais da assistência, a gente acaba acessando as maiores vulnerabilidades, inclusive de raça, muitas mulheres, chefes de família, que têm suas vidas marcadas por preconceitos de raça, de cor, de classe, de gênero, e a gente aborda isso muito dentro dos grupos de Paif e de atendimento. Então é preciso saber abordar, é preciso entender, é preciso ter um acolhimento efetivo dessas famílias, dessas crianças. E a assistência tem uma potencialidade maravilhosa para fazer isso acontecer“, ressalta.

Visitas domiciliares

Entre os serviços, realizados para a primeira infância, estão as visitas domiciliares do Programa Primeira Infância no Suas/Criança Feliz, voltado para gestantes e crianças até 3 anos de idade. Os serviços se voltam para as dimensões do desenvolvimento e para o fortalecimento de vínculos, que visam o desenvolvimento integral e integrado das crianças.

Coordenadora do Programa Criança Feliz no SUAS, Silvana Simões ressalta a importância dessas visitas, não só para o desenvolvimento cognitivo e socioafetivo, mas também no combate de violências, como o racismo. “Se fizermos essa discussão antirracista com as crianças desde o início, quando ela está lá nos braços da mãe, mostrando como ela é linda, se essa mãe for estimulada também para gostar de si, despertar esse pertencimento, valorização da sua raça, sua etnia, tudo vai ser mais fácil para essa criança vir para esse país melhor, que é isso o que queremos”, explica Silvana.

Por meio das visitas, os agentes apresentam ainda os serviços públicos disponíveis para a população, recebem as demandas das famílias, e levam esse olhar para as equipes dos Cras. Para a coordenadora do Programa Mais Infância Ceará, Dagmar Soares, a assistência social é a garantia de direitos, e é importante empoderar essa população, para que tenham acesso ao Cras, às políticas públicas, e para que saibam dos seus direitos.

Neste sentido, ela destaca a relevância do reconhecimento racial de comunidades tradicionais e diferentes etnias para a elaboração de políticas públicas. “Isso dá um olhar, para sabermos quantas pessoas existem, porque a gente só conseguimos formular políticas públicas quando esses dados existem, que é um trabalho muito forte da Igualdade Racial hoje, que em todos os nossos serviços a gente pergunte gênero e raça, e até mesmo que comunidade pertence”, explica. “Se a gente muda o começo da história, a gente muda a história toda. Precisamos garantir os direitos das crianças, para que elas possam ser o que elas realmente queiram ser”, completa.