Guineenses radicados no Ceará celebram independência de Guiné-Bissau

24 de setembro de 2019 - 17:45

Metade dos africanos que moram no Ceará vieram de Guiné-Bissau, o país, que celebra sua independência hoje, 24 de setembro, é a pátria mãe de estudantes e professores que construíram suas carreiras aqui no Ceará e contam como se sentem em relação ao seu país de origem. “Moro há 18 anos no Brasil, já passei por Teresina, Salvador e agora estou em Fortaleza. Enquanto estrangeira sinto na pele a discriminação, nós negros somos marginalizados e isso vem de longos anos de escravidão, faz parte da herança colonial que ainda permanece viva no imaginário do povo brasileiro. Sou professora e me sinto na obrigação de rebater esses comportamentos, a sala de aula é onde eu ganho esta batalha. Ensino meus alunos a pensarem criticamente e a não baixarem a cabeça para nenhum tipo de preconceito”, frisa Odila Candé, que veio de Guiné-Bissau e hoje é coordenadora da Rede Internacional de Mulheres Africanas (Rima) e professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – (UNILAB).

Para Fernando Sanha que veio de Guiné-Bissau estudar no Brasil, e hoje é articulador da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (Ceppir) da Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), ainda há muita coisa para mudar em seu país de origem, mas também é preciso celebrar as conquistas. “A independência para nós constitui um momento de fortalecimento da identidade e de reafirmação enquanto cidadãos guineense, pois foi um processo muito doloroso, difícil. A nossa geração é ainda a geração de netos e filhos daqueles que participaram da independência do nosso povo. Conquistar o direito a liberdade, a livre expressão nos traz um sentimento de muito orgulho e também a responsabilidade de contribuir com o nosso país. Nosso povo, nossa terra é o que constitui nossa maior riqueza, e é isto que nos instiga a celebrar e refletir sobre as questões que nos dizem respeito.

Técnico em enfermagem, Jus Fernando trabalha há cinco anos na Upa do Autran Nunes e ainda sonha em voltar para Guiné-Bissau. “Guiné precisa de nós, quero utilizar todo meu conhecimento para ajudar meu povo, para fazer a diferença no meu país. Moro a alguns anos aqui em Fortaleza e gosto daqui, mas ainda quero voltar para minha terra, minhas raízes”, conta Jus, que para complementar sua renda também faz bico de uber.

Dados
Dados da Superintendência Regional da Polícia Federal no Ceará dão conta de 2.167 africanos com registro de permanência no Ceará ano de 2014, sendo maioria oriundos dos países Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, Congo, Gana, Moçambique, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, São Tomé e Príncipe entre outros, dentre os países destacam-se os Guineenses que respondem por 50% dentre deste universo. Segundo o mesmo dado no período de 2010 a 2014, 3.721 africanos ingressaram no Ceará na condição de estudantes distribuídos nas diferentes instituições de ensino do estado só a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB conta atualmente com 1.103 alunos estrangeiros dentre estes apenas 69 não são africanos, com os campis localizados nos municípios de Redenção, e Acarape, o Ceará a par da Bahia são pioneiras no País na integração entre os países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), os estudantes africanos também se fazem presente na Universidade Federal do Ceará – UFC que atualmente conta com mais de cem estudantes, e os demais estão distribuídos em diferentes Instituições Privadas de Ensino Superior e Técnicos no Ceará.