Equipes municipais firmam pacto coletivo para implementação de práticas antirracistas

2 de abril de 2024 - 09:53 # # # # # # # # # # #

Assessoria de Comunicação da SPS
Texto:
Rafaela Leite
Fotos: Beatriz Souza

Reunindo saúde, educação, assistência social e sociedade, a iniciativa integra o último dia das oficinas de pertencimento étnico-racial em comunidades quilombolas

“É possível um pacto coletivo? Saúde, educação, assistência social, famílias e a sociedade, reconhecendo o problema e implementando práticas antirracistas” é o tema da ação de conclusão das oficinas para o pertencimento étnico-racial na primeira infância, que vem sendo realizadas em comunidades quilombolas de diferentes municípios do Estado.

Promovido a partir de parceria entre Secretaria da Proteção Social (SPS) e Secretaria da Igualdade Racial (Seir), o pacto prevê ações antirracistas para serem implementadas por diferentes áreas e atores sociais do município, bem como famílias e sociedade. As atividades são feitas a partir de modelos de educação antirracista, distribuídos no evento. Os exemplos são adaptados de acordo com a realidade e necessidade de cada município e área do serviço público, com auxílio da equipe das oficinas.

Secretária da Igualdade Racial, Zelma Madeira destaca a importância da intersetorialidade de políticas públicas na luta contra o racismo na primeira infância. “Para nós, isso aqui é uma ação que envolve uma agenda de transversalidade, então pra nós que trabalhamos com e em prol da equidade racial, é super importante um trabalho em conjunto com as secretarias, para poder trabalhar a igualdade como um tema transversal, que atravessa”, destaca.

“Queremos fortalecer as identidades, mas também queremos mexer com a estrutura, que se abra dentro dessas políticas setoriais, oportunidades e acesso a direitos aos grupos que são racializados de forma subalterna, como população negra, povos e comunidades tradicionais, dentre eles quilombolas, povos ciganos e povos de terreiro”, completa.

Coordenadora do Programa Mais Infância Ceará, na SPS, Dagmar Soares ressalta que o pacto é o “auge da discussão”. “No pacto, nós ouvimos o que é importante para combater o racismo e a comunidade nos diz o que ela acha que é necessário. É onde a gente conhece a problemática, discute, pensa em soluções e pactua qual daquelas ações são necessárias. Essas soluções não ficam só no campo das ideias, elas são pactuadas, e isso faz com que elas ganhem força, isso se transforma em política pública. O nosso grande objetivo, com o pacto, é propor políticas públicas que sejam factíveis, ouvindo as demandas da comunidade. E isso faz com que a política pública mude a realidade dessas pessoas. Que chegue a esse público vulnerabilizado”, explica.

Para a coordenadora especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Wanessa Brandão, o pacto representa um avanço nos caminhos para uma primeira infância antirracista. “Quando o profissional sai desse processo de só refletir e vai para o papel da intervenção, ele mesmo já está fazendo um pacto coletivo com a sua própria equipe. A intenção é que cada equipe possa ter o seu próprio pacto e, junto conosco, com o Governo do Estado, construir essa iniciativa”, explica.

Coordenador de Articulação em Saúde, na Secretaria de Saúde do município, Lucas Amaral foi um dos participantes das oficinas, em Horizonte. Para ele, a área da saúde é um dos principais pilares para a construção e desconstrução referente ao racismo. “Na questão do bom atendimento, na humanização do SUS, na importância de ter seus direitos na saúde resguardados”, pondera. Como projeto final, sua equipe realizará um cronograma de capacitações para os servidores da saúde com tema ‘Agravos de saúde da população negra’. “Eu acho que é uma ação incrível e que deveria se perpetuar cada vez mais, tanto na saúde, educação, assistência, todas as secretarias. Uma coisa bem articulada mesmo, intersetorial”, finaliza.

Caminhos de um futuro antirracista

Joseane Freire é professora da Educação Infantil e está, atualmente, como coordenadora da Educação Infantil de Horizonte. Ela conta que o município já tem uma prática atuante em relação ao combate ao racismo, com vários projetos realizados na área da educação. “Não é só não ser racista, é combater também o racismo. E a gente começando isso na primeira infância, as crianças vão se aceitar, vão se reconhecer e se identificar como pertencente ou não”, enfatiza.

Ela afirma que o papel da educação, nesta luta, se destaca por seu potencial de alcançar toda a sociedade. “Nós não somos isolados. Somos seres que estamos o tempo todo conectados, e assim, essa criança está matriculada em um Centro de Educação infantil, mas frequenta um posto de saúde, é atendida por um Cras, convive nos espaços da comunidade. Então, precisamos nos unir para que toda uma rede compactue das suas ações. Para que a gente entenda que toda essa rede aqui é responsável por essa criança; Então, se o município tem essa política de intersetorialidade fortalecida, eu acredito que a gente tem grandes chances de ter mais sucesso em qualquer ação que a gente se propõe a fazer”, pondera.

Marleide Nascimento é pedagoga, professora da rede municipal de Fortaleza e descendente da comunidade quilombola de Alto Alegre, no município de Horizonte. “Quando pensamos na educação étnico-racial, sobretudo, temos uma ideia de que precisamos educar os professores, educar as pessoas, os mais velhos. Quando, na verdade, a base está nas crianças. A gente sempre fala que as crianças são o futuro do nosso país. Quando a gente inicia pensando nessa educação antirracista, com as crianças, a gente consegue inclusive efetivar, de fato e de direito, o que essas crianças poderiam contribuir nas gerações futuras”, reflete.

“Quando trabalhamos com esses professores, com esses profissionais, para que essas crianças tenham esse direito e diretamente essas crianças consigam ser acolhidas por esses profissionais, esses sujeitos, essas crianças se tornam também crianças que vão propagar e vão estar no combate e vão estar nessa luta. Essas crianças não vão precisar se esconder, não vão precisar esconder os cabelos, elas vão poder ser quem elas quiserem ser porque a gente vem construindo essa ponte pra elas passarem”, completa.